domingo, 9 de setembro de 2012

[Tradução] Gakusei Shoujo vol. 1 - Prólogo parte 2

Oi de novo. Esta é a segunda parte do prólogo de Gakusei Shoujo, eu sei, está lento... Como é a primeira vez que tento traduzir blocos de texto grandes, espero ficar mais rápida com o tempo, enquanto isso, peço que sejam pacientes (ainda estou em três a quatro páginas por hora...).
Acho que vou seguir com este projeto porque gosto muito dele, mas não consigo tirar da enquete. Não esqueçam de votar no seu projeto preferido à direita, o mais votado será traduzido também!
Para quem chegou agora, aqui está a primeira parte.




Mesmo no instante em que ela se lança contra mim, não consigo sequer me mexer. Ela percorre com a ponta da língua meu blazer, a blusa, e minha pele, carne e costelas, depois toca algo de letal dentro de meu peito e continua a lamber. Um suspiro nervoso me escapa da garganta.
Sua língua vermelha se enrola e é puxada de volta pelos lábios, e em menos de um segundo a luz e o fogo desaparecem. Eu engulo em seco.
É um demônio. Esta mulher realmente é um demônio. Chego tardiamente a essa conclusão. Contrato com um demônio? Alma?
Enfim, as palavras dela permeiam meu cérebro.
“Es-espere um pouco!”
“Tem algum questionamento?”
“Tenho, uma montanha deles!”
Ela fez que sim com a cabeça.
“Quando de um serviço mais íntimo, é possível escolher entre manter ou não estas orelhas”
“Não perguntei nada disso!”
“Então seria a forma de cachorro? Não imaginava que o senhor meu mestre tivesse tais preferências”
“Escute o que os outros dizem!”
Enfurecido por esse assédio, eu me esqueço que estou falando com um demônio e me aproximo de Mephistopheles.
“O-o que quero saber é o que tem esse contrato, por que minha alma, e quem fez um contrato desses e quando!”
“Oh, acabei por retardar uma explanação mais detalhada. Peço desculpas.”
Mephistopheles pigarreou.
“Para ser precisa, não foi o senhor quem realizou o contrato.”
“Isso mesmo, não?! Não me lembro de nada disso!”
“Todavia, o desejo do senhor contratador é ‘voltar ao corpo e mente de um garoto jovial e desfrutar de tudo que este mundo tem para oferecer’. Por conseguinte, o senhor for escolhido. Daqui em diante, o senhor por gentileza acompanhar-me-á até o local onde se encontra o contratador, fundir-se-á com sua alma, e tornar-se-á ele próprio.”
“...Como?”
Eu já chegara ao máximo de minha confusão. As coisas que Mephistopheles dissera se embaralhavam e giravam numa espira dentro de minha cabeça. Suas orelhas pretas de cachorro moviam-se como asas batendo.
“Expondo de modo meigo e facilmente compreensível, ‘eu vou te raptar, ok?’.”
“Não precisa falar fofinho, mas por quê? Por que eu?!”
“Para a maior comodidade do senhor contratador”
“Não me interessa! Quem é esse?”
Nesta hora Mephistopheles levou o livro que recolhera do chão pouco antes à altura do peito, aquele livro que eu deixei cair quando me assustei.
Tive a impressão de que o nome do autor cintilava entre seus dedos.
“O senhor Johann Wolfgang von Goethe é o meu contratador”
Meu olhar foi e voltou várias vezes entre o rosto dela e a capa carmesim do livro.
“Hã? Não, mas...”
Goethe foi um mestre da literatura do passado, não foi? Ele está morto, não está?
As palavras dela penetram impiedosamente bem no meio de minha incerteza.
“O senhor será levado agora à Weimar¹ de 1804”
Não consegui responder com uma palavra sequer devido ao choque.
“Não é necessário que preocupe-se com coisas como não saber alemão, precisar despedir-se de família e amigos, ou de repente viver num novo ambiente, pois lá o senhor transformar-se-á no próprio senhor Johann Wolfgang von Goethe.”
Eu... Vou virar Goethe?
Então eu, o que vai acontecer com o eu vivendo agora, no Japão do século XXI?
Foi então que Mephistopheles riu pela primeira vez. Era um sorriso cruel como uma lua nova. Pensei que sua figura azeviche desaparecera, mas no instante seguinte eu estava sendo abraçado por trás.
Os braços finos de Mephistopheles apertam forte meu corpo. Suas mãos eram gélidas a ponto de que pensei que minha pele racharia. Não consigo nem falar. Um sussurro é expirado em meus ouvidos.
“Agora, manterei comigo o nome verdadeiro do senhor”
Meu nome.
Meu nome verdadeiro.
Eu sou, eu sou, eu sou...

Yuki _______.

Um eco vazio ressoa por meus pensamentos.
Não consigo lembrar. Como se tentasse ensopar pedacinhos de papel de água, meu nome está prestes a sumir de minha memória. Só o que sei é o som de “Yuki” no final do nome.
A voz de Mephistopheles inunda meus ouvidos.
“Isso, então, utilizando o fragmento que restou do nome, eu, apenas, chamarei o senhor de senhor Yuki. Como prova de que, de acordo com o contrato, foi feita a transferência para um novo corpo”
Em um instante, rasguei as sombras que me cercavam. Meu nome! Devolva!
As trevas enroscam-se em minhas palavras, se espalham, e assumem a forma de um túnel gigante. Ao sentir que meu corpo e alma estão sendo engolidos para dentro, grito numa voz que não sai. Pare, isto é ruim demais, não quero ir para essa Alemanha de duzentos anos atrás! O que vai ser de minha vida?!
A voz de Mephistopheles ecoa como latidos na escuridão.

Então, senhor Yuki, o novo senhor Johann Wolfgang von Goethe...
...Senhor meu mestre. Confirmarei agora os termos do contrato.

...O senhor poderá utilizar os poderes de mim, Mephistopheles, para seus próprios desejos e como lhe convir. Para desfrutar ao máximo deste mundo!
...Então, quando estiver satisfeito.
...Quando confirmar haver bebido de todas as maravilhas do mundo.

...Profira alto, “verweile Dauer, du bist so schön” (Pare, ó tempo, és mesmo tão belo”)!²

...Com essas palavras dar-se-á o fim do contrato, e receberei a alma do senhor.”
“O senhor tornar-se-á minha propriedade.”
“Meu. Meu. Meu...”

Enquanto era levado por um longo túnel sem luz alguma, senti eu mesmo ser reduzido a pó, misturar-me com alguma outra coisa, e ser reconstituído. Foi uma dor excruciante, que se cravava cuidadosamente em cada um de meus membros.  O motivo pelo qual, mesmo assim, conseguir apegar-me a minha própria existência até o final foi o fragmento de nome “Yuki” que ecoava em meus ouvidos. Era a voz de Mephistopheles, e também a minha própria. Ou quem sabe, a voz de meus pai e mãe, de quem sequer conseguia recordar os nomes.



Por fim, as trevas que me constringiam se transformaram em uma escuridão real, suave, viscosa e um tanto suspeita.
Começo a sentir algo duro nas costas.
Em seguida, meu senso de equilíbrio retorna. Meu corpo compreende que está deitado virado para cima.
Parece que a dor insuportável que sentia até agora era a de uma máquina aparafusando meu crânio. Mesmo assim, ouvia as vozes das pessoas rodeando a cama.
“Mestre!”
“Mestre Goethe”
“Ei, Wolf, seja forte!”
“Senhor Johann, tenha cuidado!”
Esse não é meu nome, pensei em meio à fadiga. Era a pior sensação possível.
Acordara de um pesadelo, mas, ali, estava dentro de outro.
Quando tentei abrir os olhos, senti a dor de quando se tenta descascar uma ferida. Várias sombras humanas corroíam meu campo de visão desbotado. Seus rostos, seus olhos de quem chorara rios, suas bochechas pálidas começavam a construir figuras.
Dominado por aquela dor bárbara e lânguida, que lembrava mel apodrecido, eu virei o pescoço. Pude ver uma janela escancarada por entre as cabeças das pessoas. A torre da Igreja de São Pedro e Paulo chegava até o céu noturno e atravessava a lua.



A história começa assim, porém lamentavelmente este não é um relato pessoal de Goethe, assim como não são as recordações de um garoto apaixonado por bibliotecas e que foi arrastado a um mundo diferente do seu. Eu sou um escritor, e um espectador. Estou sentado à margem de um rio vislumbrando incansavelmente o fluxo das águas, mas eu próprio não consigo nadar.
Esta é a história de uma certa musicista.
Uma crônica da vida de uma garota que dedicou tudo e lutou pela música até o fim.
Provavelmente você tomou este livro em mãos para ler tal narrativa, e eu também tomei em mãos a caneta para escrevê-la. Pensa que, sendo este o caso, trata-se de uma introdução longa? Pois então, tenho de informar-lhe de uma verdade ainda mais pesarosa. Esta história em si é um prefácio, tão longo que não posso precisar quantas centenas de páginas tomará.
Prefácio do quê?
De minha própria história.
É o prelúdio de minha história, eu que não sou nem Goethe, nem Yuki.
Acredito que entenderá o significado disso ao terminar de ler. ...Talvez. Gostaria de rezar para que entenda. Não posso explicá-lo aqui e agora, pois o próprio caminho para compor a história daquela garota é também uma viagem para procurar o início de minha história.
Então, levantemos a primeira cortina³.
A história começa do lugar onde eu e aquela garota nos conhecemos, uma estância termal chamada Karlsbald.

[Gakusei Shoujo  Prólogo  Fim]

Notas
Peço desculpas se algumas partes não fazem sentido, Sugii parece gostar de usar metáforas muito além de minha compreensão, que eu traduzo ao pé da letra.
[1] Weimar: Cidade onde Goethe viveu grande parte da vida e morreu.
[2] Transcrever alemão do japonês quando você só sabe o último é muito, muito difícil... Honestamente não faço ideia de se está certo ou se o alemão tem erros, embora a frase pareça manter o mesmo sentido (de acordo com o Google tradutor).
[3] Também pode ser lido como "abramos o primeiro capítulo", mas achei que "cortina" funcionava melhor com o tema.

10 comentários:

  1. O prologo maior que já vi
    parabéns pela tradução

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    1. O prólogo maior que já vi [2]
      Muito obrigada! A história só melhora daqui pra frente, espero fazer jus a ela.

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  2. Não é o maior prólogo que já vi, mas é realmente maior que o normal.
    Alguns pedaços estavam meio confusos, mas nada que impeça a compreensão total. Obrigada pela tradução~
    Foi realmente uma mudança e tanto do que imaginei com a primeira parte, e o final ainda me deixou mais surpresa.
    Acho que o pedaço final "Então, abramos a primeira cortina." poderia trocar abramos por levantemos, mas é só uma opinião pessoal~

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    1. Obrigada pela sugestão, Tany! Fica melhor mesmo. Como não tenho revisor, pretendo rever tudo com cuidado antes de compilar o primeiro volume. Um dia, quem sabe, se o blog der certo consigo alguém...

      Imagino que quando a heroína principal aparecer a surpresa geral será maior ainda, ahaha.

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  3. Hehe...curti, obrigado pela tradução

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  4. Muito bom!
    Não é o maior prólogo que já li. Se bem que tem o tamanho de um capitulo. Obrigado pela tradução!
    Tem algumas coisinhas que poderiam ser mudadas, como:
    "Por conseguinte, o senhor for escolhido." por 'o senhor foi escolhido'
    "Ou quem sabe, a voz de meus pai e mãe..." por 'a voz de meus pais'

    E boa sorte com seus projetos! Let's go fighto ¬¬'

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    1. Muito obrigada! Talvez não seja o mais longo, mas dezesseis páginas de prólogo é bastante pra uma LN.
      Agradeço pelas sugestões, mas por hora prefiro manter como está - a primeira por se adequar melhor à fala extremamente formal de Mephistopheles, e a segunda porque é assim que está escrito no original, por mais estranho que soe. De qualquer modo, levarei em consideração na hora de revisar.

      Kanin will faitooo!~~

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  5. Ótimo trabalho e boa sorte com as traduções!
    Tenho que dizer que foi uma ótima escolha traduzir Gakusei Shoujo já que foi com certeza uma das melhores LNs que saíram esse ano.

    E não sei se serve de referência, mas a "velocidade máxima" com que eu consegui traduzir LNs do japonês foi de umas 5 páginas/hora quando estava muito inspirado. Então não ache que está devagar, eu já fui muito mais no começo :D

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    1. I-I-Imoutolover?! Muito obrigada, mas ainda falta muito pra ficar bom!
      Não vou mentir que o que me atraiu em Gakusei Shoujo foi a arte (fã incondicional de Mel Kishida), depois o nome do Sugii, mas quando li de fato tive uma surpresa maravilhosa. A Lu é fofa demais!

      Claro que serve de referência, assim fico um pouco mais tranquila, afinal seu japonês hoje é bem melhor que o meu... Espero chegar a uma velocidade razoável e conseguir terminar o volume logo, porque novamente, Gakusei é muito bom e todo mundo merece ler.

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  6. Adorei! Essa é a primeira light novel que estou lendo e me deixou com vontade de ler muito mais! Parabéns pelo seu trabalho *-*

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