sábado, 8 de setembro de 2012

[Tradução] Gakusei Shoujo vol. 1 - Prólogo parte 1

Oi para todos! Tentei traduzir o prólogo de Gakusei Shoujo, porque este é o único de meus possíveis projetos que não tem nem anime, nem versão em inglês. Este é um prólogo longo para os padrões de LNs, então o dividi em duas partes (já estou trabalhando na segunda). Espero que gostem. Lembrando que o volume 2 faz parte dos lançamentos da Dengeki em setembro postados anteriormente.

Apenas o Light Novel Project tem permissão para redistribuir esta tradução.


Prólogo

Eu gostava estranhamente da biblioteca em dias de tempestade.
Durante minha época de primário, houve uma vez em que chegara um tufão numa quarta-feira logo antes das férias de verão, nos impedindo de deixar a escola. As janelas de todo o prédio formavam um grande coro ao serem atingidas pela chuva e ventos de tempestade, e os professores corriam apressados, procurando as crianças que ficaram e as repreendendo, dizendo "por que ainda está aqui, nós não dissemos para voltar logo? Ligue para sua mãe para que venha te buscar!" ou coisas assim. Eu entrei furtivamente na biblioteca, e, sem ao menos acender as luzes, observava o céu que escurecia depressa, cercado pelo cheiro de livros. Sentia o peito bater forte, não conseguia sentar e ficar quieto; lembro que, como achava um desperdício afastar os olhos da janela, andava em círculos em volta do sofá.
Quando o sol se pôs, meu pai veio de carro me buscar. Quando lhe contei sobre a tempestade e a biblioteca, ele riu sem desviar o olhar do limpador de para-brisas, que afastava sem parar as gotas de chuva.
"Acho que te entendo. Também já passei por coisa parecida. Só o tufão em si já é excitante, não?"
"Você também, pai?"
"Sim. Também gostava da escola escura e sem sinal de vida. Gostava muito de ficar pensando, 'será que todas as pessoas do mundo desapareceram e só fiquei eu?'."
Fiquei feliz por meu pai ter dito exatamente o que eu, cujo vocabulário ainda era escasso pela pouca idade, sentia.
"Mas você não deve ficar na escola de propósito sempre que vier um tufão. Sua mãe fica preocupada"
Porém, ao contrário de meu pai, não era o tufão apenas que me agitava. Também não era porque me sentia bem de ficar sozinho na escola escura. Durante os preparativos para o festival cultural no ginásio, ficara várias vezes na sala até mais ou menos oito e meia sem que os professores soubessem, mas não sentia nada em especial. De qualquer modo, é da tempestade de que gosto, especificamente dentro de uma biblioteca.
Passei por essa experiência quatro vezes entes de chegar ao ensino médio. Sentia que, na biblioteca fechada pelo temporal, havia algo especial preparado só para mim. Ao ouvir a chuva e o vento baterem forte nas proximidades, era como se eu próprio fosse um livro, e os dedos de alguém estivessem me folheando.


Foi durante a quinta tempestade passada em uma biblioteca que eu conheci Mephistopheles¹.
Se bem me lembro, era o começo de agosto no meu segundo ano colegial. Eu recebera o aviso de que se aproximava um tufão e, por isso, as aulas de verão do dia estavam suspensas do vigia, ao chegar à escola às dez da manhã. Por um breve instante senti que havia me esforçado em vão, mas de repente pensei que aquela poderia ser uma chance, e entrei na escola após fingir que voltara para casa.
Atravessei os corredores sem ninguém e entrei na biblioteca na ponta do segundo andar. Como chovia sem parar, estava bastante fresco mesmo sem ar-condicionado. A esquadria das janelas rangia ao ser golpeada pelo vento. O som das gotas de chuva era como o rugido do mar ao subir e descer.
Logo, comecei a escutá-lo como o ruído que se ouve no teatro, antes de começar a apresentação. Muitas vezes fui levado a concertos por meus pais, mas gostava do escurinho e dos murmúrios após diminuírem a luz e enquanto o maestro não chega. O tremor dentro de mim crescia, e eu andava pelos espaços entre as prateleiras sem ao sequer lembrar de deixar a pasta em cima da mesa.
Ao perceber diante de mim a prateleira de literatura estrangeira, de que normalmente não me aproximo, meu olhar pousou sem pensar sobre uma contracapa vermelho-escuro, pertencente a uma série posta no andar mais alto.
Embora fossem todos livros que nunca lera na vida, pareciam fazer parte de minhas memórias. Senti que conhecia aquelas histórias há muito tempo. O nome de seu autor destacava-se na penumbra.

“Goethe”

Na ponta dos pés, apanhei o livro mais à esquerda, e olhei por alto suas páginas. Era a história de um cavaleiro desastrado e antiquado. Honestamente, não a acho nem um pouco interessante, vivendo nos dias de hoje. O próximo livro, do qual conhecia apenas o título, é a história de um jovem que mantém um caso ilícito e acaba por cometer suicídio. Também devolvo este à prateleira após algumas páginas. Penso que, realmente, literatura alemã² antiga não combina comigo.
Mesmo assim, continuava a escolher os livros, um por um, e verificar seu conteúdo, devido à estranha sensação de déjà vu que não cedia.
Quanto retirei da prateleira o último livro, um clarão inesperadamente lampejou de meu lado, e o brilho desse momento se imprimiu em meus olhos. Quando recuei e desviei o olhar para a janela, me perguntando o que seria aquilo, o trovão atrasado rugiu.
Pensei, “tufões traziam consigo relâmpagos, mesmo?” e tentei me aproximar da janela, mas senti um mau pressentimento por trás de mim e me virei lentamente.
Mais ou menos na altura dos joelhos, dois brilhos vermelhos flutuavam na escuridão. Foi isso que vi por um instante, pois o corpo inteiro do cachorro era negro como as trevas que o rodeavam.
Cachorro?
É mesmo um cachorro. Um cão de linhagem admirável e que parecia molhado me olhava de baixo. Não sabia que raça era aquela, mas percebi sua constituição imponente próxima à dos lobos.
Por que haveria um lobo na biblioteca de uma escola?
Como as perguntas giravam velozes por minha mente, não tive tempo de sentir medo. No instante seguinte, aconteceu algo um tanto inacreditável.  Quando pensei que o cão ficara de pé sobre as patas traseiras, seu corpo começou a crescer. Seus membros rapidamente se tornaram mais cheios e longos, e os pelos do rosto e a ponta das patas começaram a regredir e mostrar a pele suave por baixo; os pelos cobrindo o peito, porém, se transformaram em tecido, e os da cabeça cresceram, criando uma correnteza de brilho...
Quando percebi, havia uma mulher em frente a mim.
Cabelos negros, pele excepcionalmente branca, olhos vermelhos. Um vestido também muito preto com um decote fundo. Feições atraentes apesar da perfeita falta de expressão.
O livro escorrega de minha mão e faz ranger o piso ao cair.
O único traço demonstrando que ela já foi um cachorro são as orelhas triangulares de ambos os lados da cabeça.
Talvez tenha se dado conta de meu olhar; ela diz, “ah, isto”, tocando as orelhas.
“Como por vezes há aqueles que se exaltam, perguntando ‘onde o cachorro de antes se escondeu’ por não conseguirem aceitar que, diante de seus olhos, o cão transformou-se, deixo apenas as orelhas deste jeito. Pessoalmente as acho muito meigas, o que lhe parece?”
Por uns três segundos, enrijeci com a boca meio aberta. Então, percebi que, como a mulher me olhava fixo, precisava dizer alguma coisa.
“Ah... Sim. Concordo... São mesmo adoráveis, não?”
De todas as coisas, foi isso o que saiu. Agora foi ela quem arregalou os olhos.
“O senhor foi o primeiro que ouviu e respondeu com seriedade. De modo geral, aqueles que temem, ou mesmo entram em pânico são a maioria.”
Eu também já estava suficientemente em pânico. Eu só deixei escapar o que disse.
“O motivo pelo qual escolho precisamente esta forma, a de uma mulher esplêndida, também é para evitar que sejam desnecessariamente cautelosos em frente a um demônio. Reações como a do senhor alegram-me.”
“É mesmo? Fico grato...” Não! Ela não estava dizendo coisas absurdas agora? Demônio?
“Oh, sim, tardei a apresentar-me.”
Ela levou uma das mãos ao peito, e, com a outra, levantou delicadamente a saia. Por fim, fez uma reverência curvando de leve os joelhos.
“Chamo-me Mephistopheles. Que nos recordemos um do outro de agora em diante.”














(Clique para aumentar)

Mephistopheles...
Já ouvi isso em algum lugar. Ah, é um demônio?
Ela disse que é um demônio. O que e onde exatamente eu errei em minha vida? Tento recordar o que fiz desde levantar da cama de manhã. Não há nada incerto. Comi bagels regadas a café com leite, enchi a pasta com os livros didáticos, vi na entrada estação de trem que os serviços estavam suspensos, lembro bem de tudo. Então, talvez isso tudo tenha sido um sonho, e na verdade eu ainda esteja dormindo enrolado em cobertas. Será que o som da chuva arranhando incessantemente o vidro é, de fato, o som do despertador?
A moça chamada Mephistopheles abraçou a si mesma e falou num tom passional.
“Oh, esta é a primeira vez que consigo apresentar-me e manter as relações públicas até este ponto. Estou muitíssimo impressionada. Ao saberem que sou um demônio, costumeiramente todos fogem, ou gritam e choram, ou tentam entregar-me à polícia, ou entoam preces, ou revelam-me...”
“Você é um demônio, afinal...” Também tentaria fugir se não estivesse cercado por estantes, pensei. Porém, a sensação das prateleiras e livros que pressionava com minhas costas era real demais para achar que era um sonho. Infelizmente.
Mephistopheles esmoreceu, desanimada.
“Gostaria de construir uma relação amigável com meus patronos. Como poderia parecer-lhes mais amistosa?”
Por que me pergunta? Porém, amedrontado por seus olhos úmidos, simplesmente não pude dizer “não faço ideia”.
“Que tal pensar numa pose fofa, ou algo assim”
Ao ouvir isso, Mephistopheles franziu a testa e pensou um pouco, depois ergueu devagar as duas mãos à altura do ombro, fechou-as em punho e dobrou alternadamente os pulsos, jogando as mãos para a frente.
“Miau”
“Você não era um cachorro?”
Mephistopheles cobriu a boca com uma das mãos e lacrimejou, tremeu um pouco e disse, impressionada, “uma intervenção tão fascinante...” Não é não, isso foi involuntário! Eu me deixei levar pela atmosfera!
“De fato. Sem se amedrontar um pouco sequer em frente a um demônio, e além disso mergulhando na conversação... Nada menos a se esperar do senhor meu mestre.”
“Já disse que não queria intervir, foi involuntário... Hã?”
O demônio fez outra reverência, desta vez solene o suficiente para que as pontas de seu cabelo preto tocassem o chão da biblioteca.
“De acordo com nosso contrato, a partir deste exato momento, o senhor é meu mestre. Por favor, solicite o que quer que seja.”
“Você disse... Contrato...?”
Ao se erguer, Mephistopheles tinha na mão o livro que eu derrubara antes.
“Sobre o contrato com um demônio, não está decidido desde o princípio? Eu servirei ao senhor de corpo e alma para satisfazer quaisquer desejos que o senhor venha a ter. Contudo, na alvorada após o término do período do contrato...”
Nesse instante, seus cabelos ergueram-se, envoltos por uma luz azul, uma chama assustadora acendeu em seu olhar, e, por entre seus lábios, pude ver a cor de sangue e seus caninos afiados. Todo o meu corpo estremece.
“Eu receberei a alma do senhor”
Do espaço entre suas presas, saiu a língua vermelho-vivo. Ela ergueu o pescoço, esticou-o, e chegou à altura de meus ombros.

[Prólogo parte 1 – Fim] Parte dois aqui

Notas
A combinação de sono + pressa para postar logo pode ter ocasionado erros de português, favor avisar quando for o caso.
[1] Mephistopheles: "personagem satânica da Idade Média, conhecida como uma das encarnações do mal, aliado de Lúcifer e Lucius na captura de almas inocentes através da sedução e encanto através de roubos de corpos humanos atraentes.", retirado da página da Wikipédia.
[2] Literatura alemã: Tecnicamente, Goethe nasceu no Sacro Império Romano-Germânico, vivendo e morrendo na Confederação Germânica (união dos vários pequenos Estados falantes de alemão), pois a unificação alemã só viria a ocorrer anos após sua morte. Portanto, “literatura alemã” deve ser entendida estritamente no sentido linguístico, o que não fica claro no original.

12 comentários:

  1. Respostas
    1. Grata em ajudar ^-^ Só avisando que já terminei a segunda parte.

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  2. Parabéns pelo blog e pela tradução... xD

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  3. Obrigado pela tradução :D

    - vcs disponibilizarão em pdf tambem? " só um aperguntinha basica mesmo :D"

    inté!

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    1. Obrigada por ler! Vou disponibilizar em .pdf sim, mas só quando o volume estiver completo. É pra desencorajar redistribuição, porque esta não é a tradução definitiva; ainda precisa de uma revisão mais cuidadosa, que eu vou fazer quando compilar o volume.

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  4. Uau! *-*
    Explêndido! Vou acompanhar com certeza. Muito obrigada por traduzirem este light novel maravilhoso.

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  5. Goethe era o primeiro nome do meu bisavô. Ele era português. ^^

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